Como os alagoanos da Hand Talk tornaram a comunicação inclusiva para pessoas surdas
Estima-se que 5% da população mundial sofre com problemas auditivos. Isso equivale a mais ou menos 466 milhões de pessoas ao redor do mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde. No Brasil, esse percentual não é muito diferente. Em 2010, o censo do IBGE apontou que 10 milhões de pessoas sofriam com esse mesmo problema – ou seja, em torno de 5% da população.
Para romper as barreiras da comunicação e torná-la cada vez mais inclusiva, nasce o Hand Talk, um aplicativo brasileiro que traduz áudios e textos para a língua de sinais. Criado em 2012 pelo publicitário Ronaldo Tenório, o analista de sistemas Carlos Wanderlan e o arquiteto especialista em 3D Thadeu Luz, a ideia era, a princípio, uma espécie de dicionário de bolso que ajudava na comunicação com pessoas surdas ao traduzir áudios e textos em português para LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais. Além disso, o aplicativo também conta com uma sessão educativa chamada Hugo Ensina, onde o personagem criado pelos idealizadores apresenta conteúdos didáticos para quem quer aprender a língua de sinais.
Ao longo de sua trajetória, a startup identificou que não era apenas a comunicação do dia a dia que precisava dessa inclusão. A acessibilidade digital, apesar de estar prevista na lei brasileira desde janeiro de 2016, ainda é uma realidade distante no país, considerando que somente 0,74% dos sites brasileiros são acessíveis. Diante desse cenário, a Hand Talk desenvolveu o Plugin de Acessibilidade, um tradutor de sites que ajuda as empresas a se comunicarem com muito mais gente, tornando o seu conteúdo acessível às pessoas surdas e com deficiência auditiva que utilizam a Língua Brasileira de Sinais.
Tradução para ASL
Como a língua de sinais não é universal, os fundadores da startup, ao participarem do Desafio de Impacto em Inteligência Artificial do Google, se viram diante de uma ótima oportunidade de realizar o sonho de internacionalizar o app. A empresa foi uma das 20 organizações selecionadas, sendo a única brasileira, para receber um aporte de US$ 750 mil do Google.org para investir na melhoria da qualidade das traduções do Hugo, contando ainda com mentorias e auxílio de Googlers especializados em Inteligência Artificial (IA).
Com a ajuda dessas mentorias e de toda a tecnologia disponibilizada pelo Google, a Língua de Sinais Americana (ASL) foi integrada ao Hand Talk, diminuindo ainda mais as barreiras de comunicação. A ASL é uma das línguas de sinais mais utilizadas no mundo, estando presente na comunicação de cerca de 2 milhões de pessoas nos Estados Unidos e em países como México, Canadá, Porto Rico, República Dominicana e Filipinas.
Essa nova função do aplicativo conta com um time de especialistas na Língua de Sinais Americana, que gravam e etiquetam vídeos dos sinais, melhorando a tradução do Hugo e construindo um vocabulário cada vez mais abrangente. Por meio de uma plataforma colaborativa, eles inserem todas essas informações, que são essenciais para que o sistema de inteligência artificial tenha um desempenho cada vez melhor. “Esse é mais um passo que estamos dando em direção ao futuro, ajudando a tornar o mundo mais inclusivo e a língua de sinais ainda mais difundida”, finaliza Ronaldo Tenório, CEO do Hand Talk.
Reconhecimento
Em seus primeiros anos de estrada, o produto da Hand Talk chamou a atenção e a empresa foi selecionada para receber mentorias e acelerações de várias organizações no Brasil e Estados Unidos, e foi uma das selecionadas para participar da primeira turma do Google for Startups Accelerator, em 2016, que contou com uma experiência de imersão na Califórnia.
Em 2019, veio o Desafio Google de Impacto em IA. A ação foi lançada como parte da iniciativa de Inteligência Artificial para o Bem Social para ajudar organizações sem fins lucrativos e ONGs a fazerem uso prático dessa tecnologia para enfrentar grandes problemas da humanidade. A Hand Talk, entre 2.602 empresas inscritas de 119 países, foi selecionada por preencher os pré requisitos necessários, como viabilidade, potencial de impacto, escalabilidade e uso responsável da IA.
Além disso, o app já foi mundialmente reconhecido como uma solução inovadora para o bem social, inclusive o de Melhor Aplicativo Social do Mundo em 2013, entregue pela ONU (Organização das Nações Unidas), no prêmio World Summit Mobile Award, em Abu-Dhabi. Na ocasião, a empresa concorreu com cerca de 15 mil aplicativos de mais de 100 países. Esse reconhecimento reforça a importância da tecnologia na construção de um mundo mais acessível, e é um orgulho que essa aplicação tenha sido desenvolvida no Brasil, por empreendedores brasileiros tão talentosos e comprometidos com o objetivo de conectar pessoas ao redor do mundo.
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